Sem saber o que fazer, após ter um encontro desmarcado aos 44 minutos do segundo tempo, fiquei vagando pela Internet, onde encontrei um amigo que me convidou para um evento que aconteceria num Bar/Teatro na Lapa.
Confesso que fiquei receoso e não muito animado, efeito do "bolo" talvez, com a idéia de passar a noite ouvindo contos e poesias, mesclado com atuações experimentais isoladas do pessoal de teatro do qual ele faz parte. Logo pensei com meus botões, Lapa! ... Bairro boêmio, cosmopolita, onde tudo acontece, poderia ser uma boa pedida.
Após horas vagabundeando pela Internet e com a idéia da Lapa na cabeça, pensava como me livrar daquele semblante de "tomei bolo" e sair de casa para curtir um bom programa. Mas não podia ser apenas um bom programa, tinha que ser com pessoas legais. Foi quando me deparo com minha grande amiga, que é a alegria personificada, o meu anjo encarnado, no MSN com um lastimoso apelido de "A chata". Logo, indaguei o motivo, recebendo como resposta o óbvio: "Eu estou muito chata hoje!...” Como nunca suportei ver amigo algum nesta situação, a intimei a ir comigo no tal evento, no intuito de animá-la bem como ao meu ser. Após muita insistência, obtive sucesso. Ela se convencera, de que seria melhor sair para espairecer, algo que eu já havia me convencido, apenas precisava de uma boa cia.
Chegando ao local, encontro o salvador amigo que me convidou, que sem se dar conta, acabara de salvar duas almas do abismo do lar nas sextas.
Lugar simpático, com umas tantas mesas, Bar improvisado, DJ, pessoas das mais variadas, um brechó num canto, palco noutro... Enfim, um espaço honesto.
Papo vai, papo vem, logo somos avisados que o "espetáculo" ia começar e começou de fato. Sendo o ambiente bem informal, nos posicionamos no canto direito do palco de modo que pudéssemos ver tudo e a todos. Cerveja em mãos, cigarros acesos e estando acomodados, que comecem o show.
O primeiro ator começou sua apresentação no palco e continuou sua performance em meio ao público ao som de um techno-diet (se assim posso dizer) e uma poesia de sua autoria. Enquanto isso, estávamos observando não só à interpretação como também ao público, já que gozávamos de uma visão privilegiada. Foi quando avistei uma estranha figura do outro lado do recinto. Era uma mulher magra, despenteada, com uma máscara negra estilo Kato, bermuda e meias coloridas, não tinha como não notá-la. Vai ver que foi a máscara que chamou a atenção... Hehe Comentei sobre a figura com minha amiga, que imediatamente disse; "Ela tem jeito de "tarada", não?" Ri e voltei aos meus pensamentos. Qual o motivo da máscara? Seria para fazer o tipo misteriosa? Seria um personagem? Afinal, estávamos em um teatro... Bom, sei lá, até agora não entendi...
Voltando aos "poetas", eles vociferavam suas "poesias" sobre amores, desamores, frustrações amorosas, traições e tudo que se relaciona a sexo. Algumas, para não dizer quase todas, abordavam o erotismo com um linguajar chulo, o que me fez lembrar do blog de um jornalista, cronista e poeta, Xico Sá. Ele aborda o mesmo tema, mas de maneira poética, romântica. Estou sendo eu crítico e careta, mas admito que não me agrada muito o emprego de palavrões em poesias, ainda mais sendo de modo gratuito, sem sentido. Enfim, enquanto eu estava voando em meus pensamentos e críticas, como um bom Aqua-Ariano que sou, me surpreendo com a mascarada sentada ao meu lado tentando chamar minha atenção. Bastou fazer o contato visual, que a figura puxou papo. Soltou-me aquele surpreendente e original "- Sabia, que você se parece com um ex-amante meu?" Sem saber o que fazer diante desta revelação, lhe perguntei, se isso era bom ou ruim? Para meu espanto, disse que era bom e complementou dizendo, que ele (o amante) tem 66 anos e é aposentado do exército. Continuando sem reação, fiquei emudecido, gargalhando silenciosamente por estar vivenciando aquilo. Tentando não me prolongar no assunto e em nenhum outro, voltei a atenção à minha amiga.
Mas “Kato” queria papear e não economizou esforços, me ofereceu vinho suave (arghhh), bebeu de minha cerveja e me pediu cigarro, por mais que não fumasse, tudo no intuito de prender minha atenção. Como não sou muito chegado a papo de maluco, ainda mais sendo este mascarado, pedi discretamente à minha amiga, afinal não queria que ela desconfiasse que era armação, que me abraçasse. Torcendo para que meu plano fosse suficiente para parar o Blitzkrieg daquela mascarada. Bobinho eu. Não deu dois minutos, a criatura da máscara de couro negro, me cutucou e me perguntou se minha “esposa” era ciumenta? Lembrando-me de que não se contraria maluco, cedi e lhe dei a atenção tão desejada. Em menos de 10 minutos, fiquei sabendo que seu pai é homossexual, sua mãe se foi para além terra e que ela era muiiiiito liberal (deixou bem claro isso) e bi, e para meu espanto maior, queria me beijar. Eu devo ter sido o carrasco que incendiou Joana D’Arc... Foi quando tive meu momento “Eureka”, e me lembrei da clássica, infalível e emergencial bitoca espanta malas, aquela que só usamos nas ocasiões mais extremas de apuros, aquela que você pede à amiga. Sim Bitoca, aquela que damos em nossas mães, filhos, etc... Nada de mais, mas de uma eficiência... Ohhh. Enfim minha amiga, mesmo a mil gargalhadas e colocando a condição de não envolver língua, (mulheres sempre costumam confundir língua com órgão sexual) me deu a salvadora bitoquinha e a Don Juan versão feminina, desistiu de sua presa. Ufa!
Hora de ir ao banheiro para aliviar as tensões de quem sofreu um ataque fulminante e tirar a água do joelho. Pego uma fila básica, peculiar de banheiro unissex, ainda mais quando só há um. Engraçado que, os cinco primeiros minutos de espera em uma fila de banheiro é só alegria, todos conversam, papos diversos, piadas e muitos risos. Mas logo a mãe natureza dá o ar de sua graça e nos relembra para quê viemos (à fila, claro), e as necessidades fisiológicas afetam os humores e a paciência de todos. É quando começam as reclamações para com aquele(a) que está dentro do banheiro, mas tudo com humor. Então me sai uma menina-mulher com um short na mão, procedente do brechó, vem em minha direção e me enche de “shortadas”, ao mesmo tempo me chamava de tudo quanto é nome que não ouso citá-los aqui.
Após o susto da “agressão” e o alívio por me livrar da incômoda água do joelho, voltei ao meu cantinho no palco ao lado de minha fiel escudeira, enfim, PAZ! Bom, ao menos, até avistar a aproximação da mascarada. Veio me informar que estava se pegando com um cara, lá nos fundos. E quando o informou que queria comê-lo (palavras dela), ele disse que era gay e não rolara. Fiquei emudecido e “de cara” com a capacidade que um ser tem de atirar para todos os lados. Se você pensou, que esta fascinante e esdrúxula criatura superou tudo que já viu, se enganou tanto quanto eu. Pois, pouco tempo depois, lá estava ela se atracando com duas (02) mulheres, bom ao menos conseguiu o que queria. Atirou para Todos os lados mesmo! Puro surrealismo, e tudo ao som de poesias de gosto duvidoso.
Passei o resto da noite conversando com um casal argentino que acabara de fazer uma belíssima apresentação de Tango, enquanto minha amiga se atracava com um paquera. Foi, sem sombra de dúvida, a noite mais hilária que vivi nos últimos anos. Nada como a casualidade para transformar uma saída despretensiosa em uma noite inesquecível.
Dedicado à Cá, anjo eterno, amiga fiel.